Serviços avançam 1,2% em maio e superam pela segunda vez patamar pré-pandemia

O setor de serviços avançou 1,2% em maio, na comparação com abril, e voltou a ficar acima do patamar pré-pandemia, segundo dados divulgados nesta terça-feira pelo IBGE. O resultado é reflexo do afrouxamento das medidas de restrição, movimento iniciado em abril e que tem possibilitado a retomada mais consistente dos serviços de caráter presencial.

Analistas ouvidos pela Reuters projetavam alta de 1,3% no mês e 22,3% no ano.

Considerado motor do PIB brasileiro, o setor de serviços despencou ano passado com a chegada da pandemia ao país. Gradualmente, o setor foi se recuperando. Em fevereiro, chegou a ficar 1,2% acima do patamar pré-pandemia, mês que antecedeu a implementação das primeiras medidas de isolamento social.

Em março, porém, a atividade recuou 3,4% e interrompeu nove meses seguidos de taxas positivas. Naquele período, o setor precisou enfrentar novas medidas de restrição ao funcionamento de estabelecimentos para conter o avanço da Covid-19.

Das cinco atividades pesquisadas, três apresentaram alta. O segmento de transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio, que tem o segundo maior peso no índice geral, avançou 3,7%.

O gerente da pesquisa, Rodrigo Lobo, explica que a expansão nos transportes possui duas vertentes: houve tanto uma recuperação do transporte de passageiros, motivada pela queda no preço das passagens aéreas e aumento da demanda por esse serviço, como também um avanço no segmento de armazenagem, que continua em ascensão e alcançou em maio seu ponto mais alto na série histórica.

— Temos um aumento da mobilidade urbana da população se traduzindo pelo aumento da receita dos transportes rodoviários coletivos. E um crescimento importante do transporte rodoviário de carga, que é o principal transporte modal do Brasil — afirma Lobo.

Outro destaque foram os serviços prestados às famílias, que avançaram 17,9%, a maior alta dentre todas as atividades. O desempenho foi puxado pelo aumento de receita em segmentos de caráter presencial, como restaurantes e hotéis.

Lobo destaca que o avanço da vacinação, somado ao sentimento maior de confiança por parte das famílias e a menor restrição ae funcionamento dos estabelecimentos considerados não essenciais explicam a magnitude do avanço.

— Percebemos avanço nas receitas dos segmentos prestados às famílias, com maior confiança das famílias para consumir serviços de restaurantes ao ar livre, hóteis, entre outros. Mas esse movimento de flexibilização das restrições ainda é insuficiente para o segmento, que ainda está 29,1% abaixo do nível pré-pandemia.

Por outro lado, o desemprego recorde a perda de renda em meio à pandemia desafiam a recuperação da atividade com mais robustez.

— A pandemia trouxe aumento do desemprego e restrições de renda. Num contexto onde a vacinação esteja suficientemente avançada e não haja qualquer restrição ao funcionamento das atividades, isso vai funcionar como um impeditivo para as famílias. Por ora, com a base deprimida, há espaço para crescimento do setor — ponderou Lobo.

Melhora do setor
Analistas avaliam que a retirada das medidas restritivas à mobilidade, somado ao avanço da vacinação contra a Covid-19, tendem a levar o setor de serviços para uma trajetória de recuperação.

Índice de Confiança de Serviços, (ICS) medido pela Fundação Getulio Vargas (FGV), subiu 5,7 pontos na passagem de maio para junho, chegando a 93,8 pontos. Foi o maior patamar registrado pela pesquisa desde o início da pandemia, em fevereiro do ano passado.

Em relatório, Rodolfo Margato, economista da XP Investimentos, revela que estimativas preliminares sugerem que o faturamento real do setor de serviços cresceu 0,5% em junho, em comparação com o mês de maio.

Ele lembra que os serviços prestados às famílias ainda apresentam receitas reais correntes cerca de 30% inferiores ao patamar pré-pandemia. Por isso, avalia que essa lacuna continuará diminuindo ao longo dos próximos meses, diante da reabertura mais ampla da economia em meio ao avanço no processo de vacinação.

— Ademais, vale mencionar a contribuição dos pagamentos de auxílio emergencial aos indivíduos mais vulneráveis à pandemia e a certa “demanda represada” relacionada ao consumo de serviços. Temos argumentado que maior proporção do consumo das famílias será deslocada de bens para serviços ao longo do segundo semestre deste ano, o contrário do observado nos últimos trimestres — destaca Margato.

O GLOBO

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