Salário de contratação caiu em 128 das 140 principais profissões; veja maiores quedas – e exceções de alta


Entre as poucas ocupações que têm conseguido ganhar da inflação está a de médico clínico, cujo salário de admissão teve ganho real de 35,6% em 1 ano. Na outra ponta, motorista de ônibus urbano e auxiliar administrativo tiveram as maiores quedas na remuneração inicial, com perda real de 19%.

Por Darlan Alvarenga, g1

A renda do brasileiro tem sido corroída pela inflação – e são poucas as profissões em que o salário médio de contratação não teve queda real no último ano.

Em apenas 12 das 140 ocupações mais relevantes do mercado de trabalho formal a remuneração média de admissão subiu mais que a inflação no acumulado em 12 meses, segundo levantamento da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).

O estudo foi feito com base nos dados oficiais do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho, a partir da análise das profissões com maior volume de contratações. Juntas, as 140 classificações do recorte são responsáveis atualmente por 72% da ocupação do trabalho com carteira assinada no país.

O levantamento comparou a média salarial dos últimos 12 meses encerrados em maio à média dos doze meses anteriores, descontando da variação a inflação anual de 11,9%, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) do IBGE.

Entre as poucas exceções de profissões que conseguiram ganhar da inflação estão ocupações que tiveram alta nas contratações principalmente pelo impacto da pandemia de coronavírus, como as atividades ligadas às áreas de saúde, educação e https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg.

No topo do ranking, com ganho de 35,6% acima da inflação em 1 ano, está o médico clínico, cujo salário médio de contratação nos últimos 12 meses até maio foi de R$ 10.833,65. O grupo das ocupações com valorização inclui também professores, profissionais de TI e de gestão de estoques e vendas.

No acumulado em 12 meses até março, 14 das 140 maiores profissões tiveram valorização do salário médio de contratação acima da inflação. Em abril, o número caiu para 8 e, em maio, subiu para 12. Ou seja, a queda do desemprego e a criação de vagas com carteira assinada nos últimos meses ainda não refletiu em uma melhora dos salários pagos para quem está em busca de um emprego.

“O mercado de trabalho tem evoluído positivamente do ponto de vista do emprego, da geração de vagas e até mesmo da redução da taxa de desemprego. O grande problema, que afeta um grupo de pessoas mais amplo que o do desemprego, é a corrosão do rendimento real”, afirma Fabio Bentes, economista da CNC, destacando que já são 10 meses seguidos com a inflação anual rodando acima dos dois dígitos.

Reportagem do g1 mostrou que o salário médio de contratação no país caiu 5,6% em 1 ano, considerando todas as profissões contabilizadas pelo Caged. Em maio, o salário médio real de admissão foi de R$ 1.898, contra um valor de R$ 2.010 em maio do ano passado, em valores corrigidos pelo INPC.

Para Bentes, o ritmo lento de recuperação da economia e o universo de quase 11 milhões de desempregados também ajudam a explicar os salários iniciais mais achatados.

“Uma taxa de desemprego perto de 10% não favorece ganhos reais no mercado de trabalho. Então são dois fatores combinados: inflação mais alta e uma demanda por emprego muito grande”, diz o economista da CNC. “Se a economia estivesse mais acelerada, seguramente as empresas iriam precisar mais de funcionários e iriam ter que pelo menos reajustar perto da inflação”.

Profissões que mais perderam para a inflação

Entre as 140 principais profissões do país, as que tiveram a maior queda no salário médio de admissão em 12 meses foram as de motorista de ônibus urbano e contínuo (auxiliar administrativo), ambas com uma diminuição de 19% em 1 ano.

A maioria das profissões da lista estão associadas a setores que ainda não conseguiram retomar ao nível de atividade pré-pandemia, como os de transporte público, bares e restaurantes, ou cuja demanda encolheu em razão do avanço do trabalho híbrido, como os serviços administrativos e de escritório.

Sem ganhos reais

Entre os profissionais já empregados também é pequena a parcela daqueles que têm conseguido ganhos reais. Outro levantamento, agora da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), mostrou que apenas 16,22% dos reajustes salariais negociados em acordos e em convenções coletivas nos últimos 12 meses até junho ficaram acima da inflação.

De acordo com os dados do Caged, em maio foram criados 277 mil empregos com carteira assinada no Brasil. No ano acumulado no ano, o saldo é de 1,05 milhão de vagas formais a mais. A expectativa dos economistas, porém, é de uma desaceleração do ritmo de criação de vagas de emprego, em razão do aperto das condições monetárias, da inflação persistente e incertezas relacionadas à disputa eleitoral.

A iminente aprovação da a PEC (proposta de emenda à Constituição) que libera bilhões em gastos públicos a pouco mais de três meses das eleições tem elevado os temores de descontrole fiscal, pressionado o câmbio e reforçando as apostas de uma alta maior da taxa básica de juros (Selic).

O Banco Central admitiu oficialmente que a meta de inflação será descumprida em 2022 pelo segundo ano seguido – a estimativa é que o IPCA feche o ano em 8,8%. Para tentar cumprir a meta do próximo ano, o BC elevou em junho a Selic para 13,25% ao ano, o maior patamar desde 2016, e indicou que os juros ficarão em patamar elevado por um período maior de tempo.

https://g1.globo.com/economia/noticia/2022/07/08/salario-de-contratacao-caiu-em-128-das-140-principais-profissoes-veja-maiores-quedas-e-excecoes-de-alta.ghtml

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