Recuo nas vendas no comércio no fim do ano deve ter impacto em 2022

O Estado de S.Paulo –

O estrago provocado pela alta da inflação e dos juros e a queda do poder de compra do brasileiro não deve se limitar ao consumo de fim de ano. Normalmente, a movimentação da economia no último trimestre tem desdobramentos no começo do ano seguinte. Quando o final de ano é bom, janeiro começa com reposição de estoques e muitos empregos temporários viram definitivos.

No entanto, caso o cenário de recuo das vendas no último trimestre traçado pelo estudo da Confederação nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) se confirme, corre-se o risco de começar o próximo ano sem esse impulso, alerta a economista da Prada Assessoria, Marcela Kawauti. “O começo do próximo ano pode ser bem morno”, prevê.

Ela lembra que 2022 terá dificuldades adicionais porque é um ano eleitoral, quando as incertezas aumentam, o que afeta os investimentos. Também a alta da taxa de básica de juros para conter a inflação, além de encarecer o custo do crédito neste momento, ainda não teve seu efeito pleno de deprimir o consumo. “O impacto maior acabará se manifestando ao longo de 2022.”

O consumo das famílias responde por mais da metade da geração de riqueza na economia brasileira e não é sem motivos que as expectativas para o Produto Interno Bruto (PIB) de 2022 começam a migrar para estabilidade e até para desempenho negativo.

Compra parcelada no supermercado
Mesmo com custos e preços pressionados, varejistas de diferentes segmentos tentam virar o jogo e animar as vendas de final de ano, alongando prazos de pagamento.

A Via, dona da Casas Bahia e do Ponto, decidiu parcelar em até 30 vezes no cartão próprio as compras da Black Friday, por exemplo.

A Lojas Cem é outra grande rede varejista do setor de móveis e eletroeletrônicos que pretende ampliar a quantidade de parcelas sem juros para tentar “encaixar” a prestação no orçamento do consumidor.

José Domingos Alves, supervisor geral da rede, diz que o ajuste na forma de pagamento é necessário porque hoje há um número menor de pessoas com condições de comprar. “O mercado está menos consumidor em relação ao ano passado porque o custo de vida subiu muito e sobram menos recursos para gastar com outros itens”, afirma, acrescentando que esse é o cenário para Black Friday e Natal.

Até a rede de supermercados Dia Brasil está parcelando em três vezes no cartão de crédito quando as compras de alimentos, produtos de higiene e limpeza superam R$ 90. “Alongar prazo é uma boa fórmula, mas antecipa o consumo”, observa Marcela. Segundo ela, o risco dessa estratégia é que mais à frente poderá ser preciso fazer algum ajuste para que essa conta seja paga.

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