‘Proposta de reforma tributária tem aumento boçal de carga’, critica Luis Stuhlberger

O sócio e gestor da Verde Asset Management, Luis Stuhlberger, criticou na noite desta quinta-feira, 1, a proposta de reforma tributária do governo, afirmando que o texto é eleitoreiro, complica o sistema e tem “aumento boçal da carga tributária” no Brasil, ao contrário do prometido pelo governo na campanha.

“Acredito que muita coisa do que foi proposto vai mudar. Não vai passar no Congresso desse jeito”, afirmou em evento pela internet. “Me admira muito o Paulo Guedes ter mandado um negócio desse.” Para o gestor, ao invés de simplificar, a proposta complica. Stuhlberger afirmou que a proposta de taxar dividendos aumenta a carga tributária das empresas. Ele ressaltou ainda que construtoras e incorporadoras serão muito afetadas caso o texto passe.

Reduzir imposto de renda e taxar dividendo é factível desde que seja neutro do ponto de vista de arrecadação, o que não foi o caso na proposta. “Colocar 20% de dividendo e diminuir em duas de 2,5% o imposto de renda, é você botar um bode na sala e depois te dar uma gorjeta para ficar com esse bode. Não tem cabimento uma coisa dessa. Tem que ser revisto.”

Nos fundos de investimento, o gestor falou que a bitributação das carteiras vai deixar as coisas “inadministráveis” para os gestores: pagar quando tem o dividendo e depois o investidor tem que se compensar. “Não sei como se administra isso.”

Outra crítica de Stuhlberger é taxar os fundos imobiliários. “Acho um profundo equívoco”, disse ele, ressaltando que toda a área de produtos agrícolas não é taxada na proposta, possivelmente por causa da influência do segmento. Pelo lado positivo da proposta, ele destacou que “tem mérito” acabar com o juros sobre capital próprio (JCP). Outro mérito é combater a pejotização.

No final do evento, Stuhlberger ressaltou que a posição do fundo Verde em Brasil está em 25% em ações, pouco abaixo do normal, além de estar aplicado em juro real e comprado em dólar.

Federal Reserve
Stuhlberger avalia ainda que, se o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), estiver errado sobre o cenário econômico americano e precisar reconhecer isso, o estrago será grande, principalmente nos países emergentes, embora neste momento o grau de preocupação com isso seja baixo.

Em meio a recuperação econômica nos EUA, a inflação tem se acelerado no país. Mas o Federal Reserve tem evitado sinalizar um aumento significativo na taxa de juros, indicando que, até agora, a alta da inflação será passageira. “O mercado não quer apostar contra um banco central”, disse o gestor no início da noite desta quinta-feira, no evento Verde Week, ressaltando que historicamente essa estratégia não costuma dar certo. Em termos de estratégia, o gestor ressaltou que a Verde fez operações de hedge recentemente e reduziu, na pandemia, o percentual aplicado em bolsas globais de quase 40% para 3%.

Stuhlberger começou sua apresentação ressaltando que estímulos nos EUA deixaram as famílias americanas US$ 20 trilhões mais ricas na pandemia. Em grande parte, esse efeito riqueza vem do estímulo monetário extraordinário do Fed e da política fiscal da Casa Branca, que bateu em 25% do Produto Interno Bruto (PIB).

Nesse ambiente, o grande risco é a “inflação de reabertura” não ser transitória, disse o gestor. “A reabertura está gerando um pico de inflação maior que o esperado”, completou. Stuhlberger destaca que é razoável imaginar algum arrefecimento da inflação pela frente, especialmente em produtos que tiveram gargalos de oferta. Ao mesmo tempo, a alta recente da inflação tem se mostrado generalizada.

O sócio da Verde argumentou que os “pombos”, ou doves em inglês, dentro do Fed têm destacado que o mercado de trabalho americano ainda está deteriorado, com 10 milhões de desempregados, por isso, não precisa pressa para retirar os estímulos. Mas com a inflação ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) acumulando alta na casa dos 5% ao ano, cresceu dentro do BC americano um perfil mais “hawkish”, ou seja, mais duro no combate à alta de preços, que defendem redução das compras mensais de ativos e alta de juros.

O ESTADO DE S. PAULO

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