Projeção de PIB negativo no quarto trimestre de 2021 ganha força após queda de serviços

Folha de S.Paulo – 14/12/2021 –

A retração de atividade nos principais setores da economia, serviços, comércio e produção industrial, no mês de outubro, reforça o quadro de fraqueza econômica no Brasil. Diante da queda generalizada, um número maior de analistas já projeta PIB (Produto Interno Bruto) negativo no quarto trimestre de 2021.

A deterioração do cenário ficou mais nítida nesta terça-feira (14), após o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgar o resultado de serviços em outubro.

Na comparação com setembro, o volume do setor, o principal da economia nacional, teve baixa de 1,2%. Foi a segunda retração em sequência. Em setembro, o setor havia registrado queda de 0,7%.

Antes de divulgar o dado de serviços, o IBGE havia confirmado recuos de 0,6% na produção industrial e de 0,1% nas vendas do varejo no mesmo mês de outubro. Ou seja, os três setores pesquisados começaram o quarto trimestre no vermelho.

A perda de força na retomada ocorre em meio a um contexto de inflação alta, juros elevados e dificuldades no mercado de trabalho.

Nesta terça, a XP afirmou, em relatório assinado pelo economista Rodolfo Margato, que “o setor de serviços decepciona pelo segundo mês consecutivo”.

O segmento inclui atividades que foram muito afetadas pelo isolamento social na pandemia, e a expectativa era de retorno com vigor quando a circulação de pessoas fosse totalmente liberada.

Na visão da XP, se justamente essa parcela da atividade não reage como o esperado, “há riscos crescentes de contração do PIB no quarto trimestre”.

A instituição financeira projeta recuo de 0,2% no indicador entre outubro e dezembro, ante o terceiro trimestre, já descontados os efeitos sazonais.

No acumulado de 2021, a casa aposta em alta de 4,5% do PIB, após o tombo de 3,9% em 2020. Já em 2022, a projeção é de variação nula (0%).

Os indicadores de volume de serviços, produção industrial e vendas do varejo guardam diferenças em relação ao cálculo do PIB, mas servem como um termômetro da atividade econômica.

O PIB já vem de dois trimestres negativos no Brasil. O indicador amargou baixas de 0,4% e 0,1% no segundo e no terceiro trimestres deste ano.

Para o economista-chefe da consultoria MB Associados, Sergio Vale, os números de outubro divulgados pelo IBGE sugerem um cenário complicado até dezembro.

Por ora, a MB ainda estima um PIB com variação positiva de 0,1% no quarto trimestre, mas a tendência é de revisão para o campo negativo em breve, com a entrada de novos dados.

“Estamos caminhando para um PIB negativo”, diz Vale.

“Alguns resultados já sinalizam que novembro não foi um mês muito favorável. Indicadores de confiança mostraram queda, a Black Friday não foi muito boa. Há o efeito da inflação, dos juros maiores e das incertezas”, completa.

O economista João Leal, da gestora Rio Bravo, considera que a atividade econômica se encontra em um quadro de estagnação.

A Rio Bravo ainda projeta PIB com leve variação positiva no quarto trimestre, entre 0,1% e 0,3%, mas não descarta um desempenho negativo, diz Leal.

“A palavra que melhor resume os últimos meses na economia é estagnação. Não conseguimos crescer”, afirma.

“Não dá para descartar PIB negativo no quarto trimestre. A gente pode ter novas surpresas e caminhar nessa direção”, acrescenta.

Em nota, o Banco Original afirmou que o desempenho de serviços em outubro trouxe um viés de baixa para as projeções do PIB, o que deve forçar revisões.

As estimativas atuais do banco para o indicador são de avanços de 0,2% no trimestre e de 4,8% no ano de 2021.

“Com todas as pesquisas do IBGE surpreendendo negativamente as nossas projeções, fica claro o viés negativo sobre a nossa projeção de PIB, hoje em 0,2% t/t e 4,8% para o fechamento de 2021. Para 2022, o recado é o mesmo. Revisaremos oficialmente os nossos números em nossa próxima reavaliação mensal de cenário”, diz o Original.

Segundo economistas, o recuo de 1,2% do volume do setor de serviços pode ser associado a fatores como a fraqueza da atividade econômica no geral e a inflação mais forte.

Mesmo com o recuo, o setor ainda está 2,1% acima do nível pré-pandemia, de fevereiro de 2020. A questão é que essa diferença já foi maior. Em agosto deste ano, os serviços chegaram a operar 4,1% acima do pré-crise.

Com a derrubada de medidas restritivas e a reabertura de atividades econômicas na pandemia, analistas esperavam uma recuperação mais consistente dos serviços.

O problema, segundo os especialistas, é que a piora de indicadores macroeconômicos abala o processo de retomada.

“Há uma situação de enfraquecimento geral da economia. Não está sobrando tanta renda para o consumo de serviços. A inflação corrói parte da renda disponível”, diz Vale, da MB.

Ao recuar 0,6% em outubro, a produção industrial ficou 4,1% abaixo do pré-pandemia. Foi a quinta queda consecutiva do setor, que ainda sofre com a escassez de insumos e o avanço dos custos produtivos.

As vendas do varejo, por sua vez, ficaram 0,1% abaixo do pré-crise. O recuo de 0,1% em outubro foi o terceiro em sequência para o comércio, abalado pela escalada inflacionária.

A inflação oficial do país, medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), alcançou a marca de 10,74% em 12 meses até novembro. É o maior acumulado desde novembro de 2003.

O economista Rodrigo Ashikawa, da Claritas Investimentos, considera que a pressão dos preços é um dos principais motivos para os resultados negativos de serviços, indústria e comércio.

Por ora, ele mantém a projeção de PIB com variação positiva de 0,3% no quarto trimestre, mas não descarta revisões para baixo devido aos riscos existentes no cenário.

“Tivemos uma surpresa para baixo no setor de serviços em outubro. Isso mostra um cenário um pouco mais desfavorável para a atividade econômica no quarto trimestre”, diz o analista.

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