Folha de S.Paulo – 02/02/2022 –
A produção industrial brasileira acumulou alta de 3,9% no ano de 2021, informou nesta quarta-feira (2) o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Mesmo com o resultado positivo no ano, o indicador não conseguiu recuperar o patamar pré-pandemia. Em dezembro, ficou em nível 0,9% inferior ao de fevereiro de 2020.
No último mês de 2021, a produção industrial subiu 2,9% na comparação com novembro, apontou o IBGE. No mês anterior, havia registrado estagnação (0%), o que interrompeu sequência de cinco quedas.
O desempenho de dezembro veio acima das estimativas do mercado financeiro. Analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam avanço de 1,6% frente a novembro.
O IBGE também informou que, em relação a dezembro de 2020, a produção das fábricas caiu 5%. Nesse recorte, as estimativas de analistas sinalizavam retração de 5,9%.
A alta em 2021 é a primeira após dois anos e reflete, em parte, a base fragilizada de comparação. Ao longo do ano passado, a reação do setor perdeu fôlego, indicou André Macedo, gerente da pesquisa do IBGE.
“É o primeiro resultado positivo depois de dois anos. Em 2019, o acumulado do ano foi de -1,1% e em 2020, de -4,5%. Em 2021, houve uma característica decrescente ao longo do ano, uma vez que houve ganho acumulado de 13% no primeiro semestre, e, posteriormente, o setor industrial mostrou redução de fôlego”, disse.
“Os resultados positivos dos primeiros meses do ano tinham relação com uma base de comparação muito depreciada, já que em 2020 houve perdas bastante intensas para a indústria”, completou.
No acumulado do ano, a indústria teve resultados positivos em 18 das 26 atividades investigadas pela pesquisa, com destaque para veículos automotores, reboques e carrocerias (20,3%), máquinas e equipamentos (24,1%) e metalurgia (15,4%).
“É um ano em que a indústria cresce sobre um período de muita perda. Essa também é uma característica da atividade de veículos automotores, que, em 2020, teve acumulado no ano de -27,9%. Então, ela segue o mesmo comportamento da indústria geral: cresce e fica no campo positivo, embora não tenha revertido as perdas do ano anterior”, ponderou Macedo.
A escassez de insumos ainda é apontada como um problema que atinge parte das fábricas. O ramo automotivo está entre os mais afetados pela situação. A falta de componentes é associada à pandemia, que desalinhou cadeias produtivas globais.
Para complicar o quadro de dificuldades, a escassez tem sido acompanhada pelo aumento de preços. Em 2021, a inflação de mercadorias usadas pela indústria acumulou alta de 28,39%, de acordo com o IPP (Índice de Preços ao Produtor).
O avanço foi o maior já registrado na série histórica, iniciada em 2014. O IPP, outro indicador do IBGE, mede a variação dos preços na porta de entrada das fábricas, sem o efeito de impostos e fretes.
Analistas também consideram que a escalada da inflação para o consumidor brasileiro e a renda do trabalho em queda representam mais um obstáculo para a recuperação das fábricas. Em conjunto, os dois fatores dificultam a compra de bens industriais por parte das famílias.
“Há os reflexos da pandemia no processo produtivo, como encarecimento dos custos de produção e falta de matérias-primas, e, também, pelo lado da demanda doméstica, inflação em patamares mais elevados e mercado de trabalho que, embora tenha mostrado algum grau de recuperação, ainda é muito caracterizado pela precarização das condições de emprego, com pagamento de salários menores”, pontuou Macedo.