A atuação dos profissionais de Recursos Humanos é crucial para a incorporação da sustentabilidade na cultura organizacional
Por Sonia Consiglio
Todas as áreas estão procurando sua conexão com ESG (environmental, social e governance – ambiental, social e governança, em português). Afinal, essa é, como costumo chamar, a “sigla mais famosa das galáxias” atualmente. Fortemente impactadas pela pandemia (que mostrou a interligação entre essas dimensões) e pelo interesse crescente e acelerado dos investidores por essa agenda, as lideranças empresariais direcionaram sua atenção para a sustentabilidade como nunca antes. Com isso, vem a reflexão do jurídico, do compliance, do marketing, enfim, de todas as caixinhas do organograma, sobre qual é o seu papel em tudo isso. Com RH não é diferente. E não poderia ser. RH, na verdade, é peça-chave neste contexto.
É fácil comprovar a valorização da pauta de pessoas olhando para o mais alto nível de governança das empresas, os conselhos de administração. Em qualquer pesquisa sobre tendências para 2022 nesses colegiados, ela aparece:
Quando analisamos as competências que os/as conselheiros/as devem ter, a linha é a mesma. Em levantamento conduzido pela ZRG (consultoria global de gestão de talentos) com conselheiros de 127 empresas globais de grande porte, as habilidades relacionadas a “Gestão de Talentos/RH” estão empatadas em primeiro lugar com “Olhar Estratégico”, com 71% dos entrevistados indicando-as como essenciais para os conselhos nos próximos 5 a 10 anos.
Venho de uma escola muito forte em gestão de pessoas: o BankBoston. Quando fui diretora de RH lá, no início dos anos 2000, já falávamos em avaliação por competências, qualidade de vida, diversidade e atendimento por meio de LPOs (line personnel officer), por exemplo. Essa não era a regra – e me arrisco a dizer que, infelizmente, segue não sendo. As áreas de RH, em geral, ainda lutam por espaços mais estratégicos e para serem vistas como parceiras de negócios e não apenas operacionalizadoras de processos de seleção, remuneração, benefícios.
E aí chega o ESG.
Quando falamos do envolvimento do RH nesta agenda, a conversa tende a enveredar para diversidade. Claro, é isso também. Mas não só. É também sobre cultura, engajamento, desafios, reconhecimento, desenvolvimento. É sobre pessoas e como elas podem ser melhores e tornarem as empresas onde trabalham lugares melhores, mais saudáveis e prósperos.
Uma pesquisa que ajuda muito a entender o papel do RH nesse novo mundo aonde ESG chega forte e muda modelos é “Liderança para a Década da Ação”, conduzida por Russell Reynolds e Pacto Global da ONU. Ela indica quatro processos fundamentais para a incorporação da sustentabilidade na cultura corporativa: Seleção, Sucessão, Incentivos e Desenvolvimento. Segundo o estudo, devemos nos certificar de que as questões sociais, ambientais e de governança estão sendo consideradas ao entrevistarmos um candidato, no mapeamento de sucessores, na remuneração variável e ao treinarmos e desenvolvermos o time.
Ora, e quem é o responsável por todos esses movimentos na organização? O profissional de Recursos Humanos. Profissional esse que sempre foi desafiado a ir além, a ser estratégico, a propor e antever tendências. Não é de hoje que a sua atuação é discutida, provocada, analisada, dada sua relevância e poder de transformação.
Quando inserimos ESG neste cenário, vemos de forma límpida o imenso potencial de implementação de práticas que podem mudar de patamar uma organização. Potencial que só se concretizará com um novo olhar e uma nova forma de fazer. É como diz a CEO da Solvay, Ilham Kadri: “Nós precisamos desaprender o que fizemos no passado e pensar em construir novas competências para os futuros líderes em torno da sustentabilidade no sentido de reinventar novas formas de progresso”. E, para isso, RH é peça-chave.
Sonia Consiglio é colunista do Valor Investe, SDG Pioneer pelo Pacto Global da ONU, Vice-presidente do Conselho Consultivo da CDP LA, conselheira de empresas e atua há 20 anos com sustentabilidade. Autora do livro #vivipraver – a história e as minhas histórias de sustentabilidade (Heloísa Belluzzo Editora).
https://valor.globo.com/carreira/coluna/por-que-o-rh-e-peca-chave-na-agenda-esg.ghtml