OCDE destaca recuperação desigual da economia global

A economia global deverá crescer quase 6% neste ano, numa alta “impressionante”, após contração de 3,5% em 2020, prevê a OCDE. A maior expansão desde 1973 é puxada pela alta da vacinação e pelo recente estímulo fiscal nos EUA. A economista-chefe da OCDE, Laurence Boone, diz que apesar do alívio com a melhora da perspectiva econômica, a retomada é muito desigual. A projeção ainda está sujeita a riscos significativos ligados à epidemia e às condições dos países emergentes, por exemplo. Segundo a OCDE, a economia global voltou agora aos níveis de atividade pré-pandemia, mas a global real ainda será cerca de US$ 3 trilhões menor até o fim de 2022 do que teria sido sem a crise. Em dezembro, porém, essa estimativa era de perda de US$ 6 trilhões. Para a entidade, uma prioridade é assegurar a vacinação o mais rápido possível em todo o mundo para salvar vidas, preservar a renda e limitar o impacto adverso das medidas de contenção.

A avaliação é de que nunca em uma crise o apoio político – seja na saúde, na velocidade recorde do desenvolvimento de vacinas, monetário, fiscal ou financeiro – foi tão rápido e eficaz. Como resultado, o setor industrial está crescendo rapidamente, o comércio de mercadorias se recuperou fortemente com a abertura gradual das fronteiras e as viagens são retomadas. Além disso, a reabertura é acompanhada de aumento no consumo e nas horas trabalhadas.

Mas a OCDE acha “perturbadora” a falta de vacinas para as economias emergentes e de baixa renda, o que as expõe a uma ameaça fundamental, pois elas têm menos capacidade de apoiar a atividade do que os países ricos. Um crescimento mais fraco, causado pela pandemia, é mais difícil de amortecer, resultando em aumento da pobreza e problemas de financiamento.

As empresas, muitas com mais dívidas do que antes da pandemia, podem falir. As pessoas mais vulneráveis correm risco de sofrer ainda mais com períodos longos de inatividade e renda reduzida, exacerbando as desigualdades, entre e dentro dos países, e potencialmente desestabilizando as economias.

Boone nota que o primeiro risco é um forte retorno da epidemia. Outro, o aumento das desigualdades. E um novo risco é a possibilidade de inflação maior. Mas ela considera que a pressão inflacionária é temporária, resultado da demanda por bens, que subiu com a reabertura das economias, e de uma oferta que segue limitada. As disrupções nas cadeias de fornecimentos devem começar a desaparecer até o fim do ano, à medida que a capacidade de produção se normaliza e o consumo se reequilibra entre bens e serviços. O que é mais preocupante sobre a inflação é a volatilidade da reação dos mercados financeiros, que podem empurrar os juros para cima, resultar em efeito contágio e fuga de capital nos emergentes.

Nos próximos 18 meses, as perspectivas diferem substancialmente entre as economias. Nos EUA, a projeção é de crescimento perto de 7% em 2021 e de 3,5% em 2022, puxado pelo apoio fiscal, política monetária acomodativa e queda gradual da taxa de poupança familiar para a média pré-pandemia, que deve apoiar o consumo No Japão, que teve contração do PIB no primeiro trimestre de 2021, espera-se uma gradual retomada da atividade econômica com o avanço da vacinação. A OCDE prevê alta de 2,5% do PIB neste ano. Na zona do euro, o PIB caiu no primeiro trimestre, com consumo privado e o setor de serviços reprimidos pelos lockdowns. Mas a forte demanda externa está puxando a atividade industrial e os programas dos governos têm preservado o emprego. A expectativa é de crescimento de 4,3% em 2021.

Na China, o crescimento robusto deve continuar, com alta de 8,5% do PIB neste ano e 5,8% em 2022. O crescimento das exportações é dinâmico, impulsionando o superávit da conta corrente, e a política monetária permanece acomodatícia. Mas haverá menos apoio fiscal. A Índia viu sua rápida recuperação ser freada pelo forte aumento da epidemia. Os preços maiores das commodities também impulsionaram a inflação, reduzindo a renda real das famílias. O crescimento do PIB, que em janeiro era previsto em 12,6%, caiu agora para cerca de 10% neste ano.

VALOR ECONÔMICO

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