Valor Econômico
O número de horas trabalhadas no mundo sofreu uma deterioração no primeiro trimestre deste ano e continua 3,8% inferior ao nível do quarto trimestre de 2019, antes da crise da pandemia de covid-19
Por Assis Moreira
A recuperação no mercado global de trabalho sofre um retrocesso com múltiplas crises e crescentes desigualdades entre e dentro dos países, alerta nesta segunda-feira (23) a Organização Internacional do Trabalho (OIT), coincidindo com a abertura do Fórum Econômico Mundial em Davos.
O número de horas trabalhadas no mundo sofreu uma deterioração no primeiro trimestre deste ano e continua 3,8% inferior ao nível do quarto trimestre de 2019, antes da crise da pandemia de covid-19. Isso equivale a um déficit de 112 milhões de empregos a pleno tempo e sinaliza “um sério revés no processo de retomada”.
As recentes medidas de lockdown na China respondem pela maior parte da baixa constatada em nível mundial no segundo trimestre deste ano. Além disso, o conflito na Ucrânia continua tendo consequências para a economia mundial, com o salto da de inflação e mais perturbações nas cadeias globais de abastecimento.
Também turbulências crescentes nos mercados financeiro e alta dos juros deverão ter um impacto significativo no mercado de trabalho no mundo todo. Para a OIT, existe assim um risco maior de novos cortes de vagas de trabalho nos próximos meses. Tudo isso resulta em menos demanda nas economias e em mais problemas sociais.
Tendências divergentes vão se agravar mais no atual trimestre. Tem ocorrido uma forte demanda por mão-de-obra nos países desenvolvidos. Em contrapartida, países de renda média ou baixa deverão sofrer uma estagnação ou baixa nas horas trabalhadas nos próximos meses, segundo a OIT.
Essa situação se complica, já que a renda do trabalho ainda não retornou ao nível pré-pandemia para a maioria dos trabalhadores. Em 2021, três entre cinco trabalhadores viviam em países onde os salários ainda estavam abaixo dos níveis do quarto trimestre de 2019.
Segundo a OIT, somente em 2020, no auge da crise da pandemia, houve uma perda de US$ 1,3 trilhão em termos de renda do trabalho globalmente.
Considerando agora a persistência de uma inflação elevada globalmente em 2022, a OIT aponta risco de novas baixas sobre os salários reais dos trabalhadores.
A diferença entre homens e mulheres em horas trabalhadas continuou a aumentar, com as mulheres sendo mais atingidas, principalmente na economia informal.
A OIT sugere aos governos fornecer “apoio eficaz e em tempo oportuno” para as famílias manterem o poder de compra e resistir à inflação e evitar contrair dívidas; ajudar as categorias e setores mais atingidos, e adotar políticas setoriais de longo prazo para favorecer a criação de empregos.