Valor Econômico – 29/09/2021 –
A falta de reserva financeira atinge mais de metade das micro e pequenas empresas brasileiras. São 52%, de acordo com a pesquisa Sondagem das Micro e Pequenas Empresas, realizada pelo Sebrae em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV) e antecipada ao Valor. Desse conjunto, 12% informam que, além de não dispor de poupança, enfrentam dificuldades para pagar as contas em dia.
A situação já esteve pior. No ano passado, as reservas em poder das microempresas equivaliam a dois meses de faturamento. Atualmente, correspondem a três meses.
“Sob o aspecto da saúde financeira, o quadro é razoavelmente bom”, avaliou o presidente do Sebrae, Carlos Melles. Ele acredita que as medidas adotadas pelo governo no combate aos efeitos econômicos da pandemia evitaram uma deterioração mais profunda da situação financeira das empresas. Embora tenham “judiado pelo lado fiscal”, com gastos extras de quase R$ 1 trilhão.
O quadro à frente é desafiador, reconhece Melles. “Nós nunca tivemos uma convergência de tanta coisa chata num momento tão esperado de recuperação”, afirmou.
Entre os fatores que nublam o horizonte à frente, o dirigente Citou o aumento do preço do gás, dos combustíveis, o risco de escassez de energia e o elevado custo da cesta básica.
“Esses fatores não são positivos, mas podem ser superados”, afirmou Melles.
Outra pesquisa realizada pelo Sebrae sobre o impacto da alta da energia e matérias-primas mostrou que os pequenos negócios também são afetados por esses elementos, mas seguem apresentando indicadores positivos. Por exemplo, menor índice de endividamento e menos empresas registrando queda no faturamento.
São dados que, na visão do presidente do Sebrae, não são bons como poderiam. Porém, não chegam a ser negativos.
A recuperação está em curso, mas é desigual, apontou o assessor especial do Ministério da Economia Guilherme Afif Domingos, que presidiu o Sebrae entre 2015 e 2018. Alguns setores conseguiram até aumentar sua renda com a crise sanitária, enquanto outros enfrentam dificuldades. “A pandemia produziu os falecidos e também os falidos”, disse o assessor do ministro Paulo Guedes.
O setor de alimentação fora do domicílio, um dos mais atingidos pela pandemia, ainda opera com dificuldade. Em julho, 64% dos estabelecimentos estava com contas em atraso.
“É um indicador de total falta de reservas, falta até de liquidez”, comentou o presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), Paulo Solmucci. Em julho, 37% das empresas do setor informaram operar com prejuízo. Os estabelecimentos esperam retornar ao seu nível normal de endividamento em dois a cinco anos.
De acordo com a pesquisa do Sebrae, 59% das micro e pequenas empresas do setor de serviços estão sem reservas. Entre as do comércio, 44,5% estão nessa situação. Na indústria, são 50,1%. São índices mais elevados do que o conjunto das empresas brasileiras de todos os portes, em que a falta de reserva é problema para 35%.
Entre as empresas que têm reservas, 48% pretendem utilizá-las nos próximos 12 meses. Indústria é o setor em que a intenção de uso de reservas é mais elevada. O destino são investimentos em máquinas, equipamentos e infraestrutura.
Já entre as empresas do setor de serviços, 42% pretendem usar suas reservas, principalmente para investimentos em máquinas, equipamentos e modernização. O pagamento de dívidas está no plano de 23,3% das companhias consultadas. No comércio, 41,5% que pretendem usar os recursos devem investir principalmente na antecipação de compras de insumos e matérias-primas e em infraestrutura.
A pesquisa do Sebrae ouviu 1.500 empresas entre os dias 1º e 27 de agosto.