Valor Econômico –
A pandemia vai aos poucos saindo do radar do mercado de trabalho, mas isso não significa a retomada do emprego, uma vez que fatores macroeconômicos como juros ascendentes e inflação alta ainda limitam as expectativas de contratações. A análise é do economista Rodolpho Tobler, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre). Ele avalia que a leve queda de 0,1 ponto do Indicador Antecedente de Emprego (IAEmp) em março – considerada estabilidade – indicaria mais o possível fim de um período de piora.
Em março, o IAEmp recuou 0,1 ponto, para 75,0 pontos, menor nível desde agosto de 2020, quando marcou 74,8 pontos. Em médias móveis trimestrais, o IAEmp caiu 2,3 pontos, para 75,5 pontos.
O resultado de março se segue a quatro outras quedas seguidas. No período, o IAEmp passou dos 87 pontos em outubro de 2021, até atingir os atuais 75 pontos. No ano passado, o mais alto patamar do indicador foi atingido em agosto, com 90,1 pontos.
“Em linhas gerais, o índice parou de piorar. Pode ser o início de uma estabilidade num patamar negativo, baixo. A tendência não é muito favorável, como não vem sendo nos últimos meses”, diz Tobler, para quem ainda não é visível uma reversão de tendência.
O economista ressalta que muito da estabilidade do indicador em março se deveu ao setor de serviços, que começou um processo de recuperação depois de ser duramente afetado desde o início da pandemia. “Mas os dados macroeconômicos continuam ruins e não devem se resolver no curto prazo”, pondera.
O economista do FGV Ibre lembra que o consumidor está com a renda baixa e a atividade econômica se recupera de forma lenta. “O ano de 2021 foi de recuperação, de melhora expressiva do mercado, mas, para 2022, se espera mais uma estabilidade, com alguma oscilação. Mas sem tendência muito positiva. Uma recuperação, muito mais tímida que em 2021”, pondera Tobler.
Ele ressalta que os dados do IAEmp de março ainda estão 17 pontos abaixo dos 92 pontos registrados em fevereiro de 2020, período imediatamente anterior à pandemia. Tobler destaca, no entanto, que, em fevereiro daquele ano, houve uma alta expressiva do indicador, que na época vinha oscilando próximo aos 85 pontos.
“A pandemia vai saindo do radar e quem vai ditar o ritmo do mercado de trabalho este ano é a atividade econômica. E a previsão para 2022 é fraca”, diz, lembrando que o pior momento do IAEmp durante a pandemia foi em abril de 2020, quando o indicador chegou a 39,7 pontos. Até então, o recorde de baixa havia sido em setembro de 2015, com 62 pontos.
Em março, quatro dos sete componentes do IAEmp contribuíram negativamente para o resultado. Os principais destaques negativos foram o indicador Tendência dos Negócios nos próximos seis meses da Indústria, que contribuiu com queda de 0,6 ponto, e o indicador Emprego Local Futuro do Consumidor , que cedeu 0,4 ponto. Por outro lado, o indicador Situação Atual dos Negócios de Serviços contribuiu favoravelmente com 1,0 ponto, mas insuficiente para reverter a queda, mesmo que muito próxima da estabilidade, do indicador.