Mais famílias vivem sem renda do trabalho (Editorial)

A deterioração do mercado de trabalho provocada pela pandemia, evidente na queda do rendimento médio de várias faixas de renda e no aumento do desemprego, tem outro aspecto não tão nítido. Trata-se do aumento da proporção de domicílios sem renda do trabalho. Isso quer dizer que, com um ou mais membros tendo perdido ocupação por causa da crise sanitária, mais famílias passaram a viver exclusivamente de renda originária de outras fontes, entre as quais programas oficiais de benefícios financeiros.

Estudo sobre o mercado de trabalho publicado na Carta de Conjuntura do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) do segundo trimestre de 2021 mostra que os domicílios nessa condição passaram de 25% do total no primeiro trimestre de 2020 para 31,5% no trimestre seguinte.

Foi consequência do impacto imediato, e mais intenso, da pandemia no mercado de trabalho, com o rápido aumento da desocupação, em particular entre os trabalhadores de renda mais baixa. As famílias mais dependentes de programas de transferência de renda são as que mais abrigam trabalhadores de baixa renda, muitas vezes provenientes da informalidade. Por isso, mais famílias nessa situação passaram a depender exclusivamente de renda não originária do trabalho.

No terceiro e quarto trimestres de 2020, a proporção diminuiu, mas voltou a subir no primeiro trimestre de 2021, por causa do recrudescimento da pandemia. Passou de 29% no último trimestre de 2020 para 29,34% no primeiro de 2021. Isso significa que três entre dez famílias sobrevivem sem nenhuma renda de trabalho.

Esse aumento, observa o autor do estudo, o técnico de planejamento e pesquisa do Ipea Sandro Sacchet de Carvalho, mostra “como tem sido lenta a recuperação do nível de ocupação dos trabalhadores mais vulneráveis aos patamares anteriores à pandemia”.

Além do crescimento da proporção de domicílios sem renda do trabalho, a pandemia está fazendo crescer a das famílias na faixa de renda mais baixa. As estatísticas apuradas pelo IBGE mostram a queda generalizada dos rendimentos domiciliares efetivos ao longo do ano passado. O quadro mudou em 2021, menos para uma faixa de renda. No primeiro trimestre deste ano, a faixa dos domicílios de renda baixa foi a única a perder renda efetiva na comparação com o primeiro trimestre de 2020.

O ESTADO DE S. PAULO

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