Maioria das pequenas indústrias de SP planeja reajustar seus preços

Valor Econômico –

A combinação de inflação, previsão de baixo crescimento e reflexos da guerra na Ucrânia piorou as perspectivas das micro e pequenas indústrias do Estado de São Paulo em março. Pesquisa mostra que 77% das empresas farão ou tentarão fazer ajustes de preço e 25% reduzirão ou planejam reduzir o número de funcionários.

A pesquisa, realizada pelo Datafolha a pedido do Sindicato das Micro e Pequenas Indústrias do Estado de São Paulo (Simpi) entre 17 e 30 de março, mostra que 70% dos representantes das micro e pequenas indústrias esperam alta nos preços nos próximos meses. Em fevereiro esse percentual era de 53%.

No levantamento, 59% dos dirigentes avaliaram que a alta nos preços dos combustíveis anunciada no início de março diminuirá o lucro da empresa. Para 56%, a alta levará ao reajuste de preços. Outros 53% acreditam que haverá queda no faturamento por conta da alta. E para 31%, é possível que haja interrupção ou adiamento de investimentos na empresa.

A guerra na Ucrânia é outro ponto de preocupação entre os empresários. De acordo com a pesquisa, um em cada quatro dirigentes acredita que o conflito prejudicará muito o próprio negócio. Ao menos 52% creem que a guerra trará complicações ao fornecimento de insumos para a indústria de maneira geral.

A expectativa negativa sobre economia brasileira também piorou. Foi de 19% em fevereiro para 30% em março, voltando ao patamar de novembro de 2021.

Joseph Couri, presidente do Simpi, afirma que a piora das expectativas se deve a uma mistura de fatores domésticos e externos. “É uma mistura dos dois. Chama atenção a expectativa inflacionária que explode e atinge patamares recordes, assim como a velocidade de contaminação na economia, com reajustes de combustíveis e matéria-prima”, diz. “Também salta aos olhos o impacto da guerra na Ucrânia. E, junto com isso, o custo do dinheiro, com elevação de juros e perda do poder aquisitivo.”

Segundo Couri, a expectativa de curto prazo é muito ruim. “Há um cenário extremamente preocupante de queda do otimismo de forma geral, que caiu 13 pontos percentuais em relação a fevereiro (de 52% para 39%), uma velocidade assustadora. Em fevereiro, 60% tinham esperança de retomada do crescimento. Agora, 51% esperam isso”, diz.

Quando se analisa o impacto do aumento dos combustíveis, diz, 59% esperam diminuição da margem de lucro e 19% temem que isso ocorra. Quanto à redução do faturamento, 53% preveem diminuição e outros 20% afirmam que isso possa ocorrer. Nesse contexto, aumentar os preços será inevitável para 56%, enquanto outros 21% afirmam que essa é uma possibilidade.

A pesquisa mostra que, no atual cenário de crise, 14% diminuirão funcionários e 11% podem fazê-lo. “Isso passa por elevação de custos gigantesca, desabastecimento, falta de vendas em função de perda de poder de consumo, menos consumidores. Ou seja, o ciclo inflacionário adicionado à recessão”, pontua.

Couri acrescenta que, apesar da redução de 25% do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) no mês passado, apenas 17% dos representantes das micro e pequenas empresas do Estado afirmam que o corte as beneficiou muito, 45% dizem que trouxe pouco benefício, e 35% falaram que não trouxe benefícios.

“Apenas 4% dizem ter constatado redução de preços de insumos (por conta da redução do IPI), 23% tiveram redução pequena e 62% não constataram essa queda. Então, mesmo as coisas boas estão afetando as empresas. Mesmo quando é uma boa notícia, ela não chega na ponta para a micro e pequena empresa”, conclui.

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