Estadão
Se o Brasil virar um canteiro de obras na próxima década, surgirá entre nós uma verdadeira usina de empregos, pois, nesse campo, temos quase tudo por fazer
José Pastore*
Os investimentos em infraestrutura têm um colossal impacto na geração de empregos diretos, indiretos e remotos. Os diretos são os da construção das obras. Os indiretos são os da produção de insumos para as obras. E os remotos são os que resultam das obras prontas. Com boa infraestrutura, surgem novas atividades e a produtividade aumenta.
Um estudo recente, baseado em observações em 41 países durante 19 anos, mostrou que US$ 1 milhão de investimento público em estradas, energia, água, saneamento, etc., cria de três a sete postos de trabalho diretos nos países avançados, 10 a 17 nos emergentes (por exemplo, o Brasil) e 16 a 30 nos de baixa renda. A variação é basicamente devida à incorporação de mais ou menos https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg.
Isso significa que investimentos públicos da ordem de 1% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial em infraestrutura podem gerar de 20 a 33 milhões de empregos diretos e indiretos (Mariano Moszoro, The direct employment impact of public investment, Washington: IMF, 2021).
No Brasil, o investimento em infraestrutura somou R$ 124 bilhões em 2020, inferior aos R$ 128 bilhões em 2016. Nesse período, a parcela pública caiu de R$ 42 bilhões para irrisórios R$ 26 bilhões. A expansão do investimento privado não foi suficiente para compensar a retração do público, o que implicou uma forte contração dos recursos para esse setor – Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), Livro Azul da Infraestrutura, 2021. Estamos longe de atender às necessidades da economia e da população, e mais longe ainda das oportunidades de gerar empregos em grande quantidade.
Além dos investimentos nas áreas convencionais da infraestrutura, nos dias atuais, a necessidade inadiável de descarbonização das nações exige recursos de grande monta e em áreas que geram uma enorme quantidade de empregos e postos de trabalho de vários níveis de qualificação.
Nos últimos anos, o Brasil avançou no campo regulatório com o Novo Marco do Saneamento, a Nova Lei do Gás, a Nova Lei de Falências, a Lei da Liberdade Econômica e outras. Mas o País deixou de fazer as reformas para aumentar a capacidade de investimentos públicos em infraestrutura.
Gostaria de ouvir dos presidenciáveis um plano de longo prazo para a infraestrutura. Se o Brasil virar um canteiro de obras na próxima década, surgirá entre nós uma verdadeira usina de empregos, pois, nesse campo, temos quase tudo por fazer.
*PROFESSOR DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, PRESIDENTE DO CONSELHO DE EMPREGO E RELAÇÕES DO TRABALHO DA FECOMERCIOSP, É MEMBRO DA ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS