Governo eleva expectativa de inflação em 2022 de 4,7% para 6,5%

Folha de S.Paulo –

O governo cortou a projeção para o crescimento da economia neste ano de 2,1% para 1,5% e elevou a expectativa de inflação em quase dois pontos percentuais, de 4,7% para 6,55%.

As previsões foram atualizadas nesta quinta-feira (17) pelo Ministério da Economia e incorporam os efeitos da guerra na Ucrânia. A pasta precisa revisar periodicamente os dados para ajustar a execução orçamentária e a última projeção havia sido feita em novembro.

Tanto a menor projeção para o PIB (Produto Interno Bruto), antecipada pela Folha, como a maior expectativa para a inflação são registradas às vésperas do calendário eleitoral. Enquanto isso, o presidente Jair Bolsonaro (PL) tem cobrado medidas que possam conter uma possível perda de popularidade devido às condições da economia.

Segundo o Ministério da Economia, o avanço da inflação é resultado da elevação dos preços internacionais do petróleo e de commodities agrícolas em decorrência da guerra na Europa.

A taxa prevista de 6,55% para o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), índice oficial, passa a superar a meta a ser perseguida pelo Banco Central (que vai de 2% a 5%).

Outros indicadores apontam um avanço ainda maior para os preços neste ano, com taxas que já alcançam dois dígitos. A estimativa para o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor), voltado à inflação sentida pelos brasileiros com renda menor, saltou de 4,25% para 6,7%.

Já o IGP-DI (Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna), que tem uma abrangência maior ao englobar o setor atacadista e a construção civil, quase dobrou —de 5,42% para 10,01%.

Pedro Calhman, secretário de Política Econômica, afirma que as estimativas para atividade e para os preços incorporam os efeitos da guerra na Europa com dados atualizados entre 9 e 11 de março. Segundo ele, não é possível calcular isoladamente quanto os indicadores são afetados pelo conflito —que continua como um fator de risco para o país.

“O aumento das commodities energéticas e agrícolas devido à guerra já está refletido nas projeções de inflação e atividade. Além do impacto que já teve, vai ser um fator de incerteza para o resto do ano, principalmente porque não há clareza sobre seu impacto nas cadeias globais de valor”, afirmou.

O secretário afirmou que a inflação não é um acontecimento exclusivo do Brasil. “É um fenômeno global. Estamos com a maior inflação interanual desde 2016, mas os Estados Unidos estão com a maior inflação ao consumidor em quase 40 anos”, disse.

O ministério destaca que a inflação registrada até agora vem sendo impulsionada pelos grupos de transportes (que acumula 18,26% de inflação em 12 meses terminados em fevereiro), devido ao avanço nos combustíveis, e alimentação (9,12%).

Os técnicos afirmam que a guerra na Ucrânia e seus impactos nas cadeias globais de valor podem ter como consequências quebras de oferta, deterioração das condições financeiras e do comércio internacional, além de efeitos para o balanço de pagamentos do Brasil.

“Adicionalmente, o risco da pandemia sobre o crescimento econômico e a inflação continuam sendo avaliados”, afirma a pasta em texto.

A conjuntura pressiona ainda mais os preços no momento em que já se completa um ano de escalada dos juros no Brasil, medida tomada como resposta à inflação. Nesta quarta-feira (16), o Copom (Comitê de Política Econômica) do BC elevou a taxa básica (Selic) em 1 ponto percentual, de 10,75% para 11,75% ao ano.

O Copom sinalizou que fará outro aumento de 1 ponto na próxima reunião e que as elevações continuarão avançando significativamente em território “ainda mais contracionista” diante dos novos choques inflacionários.

O aumento da Selic é um dos fatores que desaceleram a atividade. Guedes já admitiu publicamente uma menor expectativa para a economia em 2022 —após o crescimento de 4,6% em 2021. A taxa sucedeu um tombo de 3,9% provocado pela pandemia em 2020.

Apesar de a projeção do governo para a inflação estar em linha com a calculada pelo mercado, a do crescimento do PIB está mais otimista. Enquanto o ministério prevê avanço de 1,5%, analistas ouvidos pelo BC no boletim Focus calculam avanço de apenas 0,49%.

Na visão expressa pelo Ministério da Economia nesta quinta, a maior parte do corte na projeção do PIB ocorreu pelas revisões estatísticas oriundas da atualização das contas nacionais de 2019, divulgada pelo IBGE no fim do ano passado, e do crescimento menor que o projetado no segundo semestre de 2021.

A pasta afirma que o corte decorre também do desempenho de setores afetados no fim do ano passado pela ampliação dos gargalos nas cadeias globais e pela maior crise hídrica, como a indústria e o setor agropecuário.

Além disso, o ministério afirma que a conjuntura internacional (com maior inflação e redução de estímulos monetários e fiscais) tem promovido uma revisão negativa da atividade para as principais economias globais desde o ano passado —com revisões maiores para alguns países após o início do conflito no Leste Europeu.

Apesar do cenário, a pasta afirma que há fatores que contribuirão para a economia em 2022. “Apesar dos efeitos da maior incerteza global, decorrente da guerra na Ucrânia, e do menor carregamento estatístico do PIB, os fundamentos para o crescimento continuam presentes, principalmente com o possível arrefecimento dos choques negativos de oferta como a crise hídrica, quebra de cadeias de valor e pandemia”, afirma a pasta.

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