É preciso investir em educação para preencher as vagas disponíveis com qualidade (Kelly Lopes)

A convivência involuntária do mundo com a pandemia, entre todas as transformações ainda em curso, inegavelmente impulsionou nossa vida digital, ainda que nesse cenário tão trágico. As empresas, que antes já se sentiam obrigadas a investir em transformação digital, foram forçadas a adiantar seus projetos e com o desafio extra de incluir uma parte fundamental dos negócios: as pessoas.

Uma adaptação que nunca teria acontecido tão rapidamente não fosse a realidade imposta pelo vírus que abalou o mundo.

Porém, os impactos sobre o mercado de trabalho ainda estão se desdobrando. Estamos assistindo à busca emergencial de empresas por profissionais capacitados para atender a uma demanda que só tem crescido, mas que não foi planejada a tempo.

Encontrar profissionais preparados tem sido um desafio. Mas, se tempo é o principal coeficiente dessa equação de demanda X profissionais preparados, preparar talentos passou a fazer parte das estratégias das empresas. Os cursos técnicos têm sido ferramentas importantes, pois, aliados à iniciativa privada, possibilitam acesso rápido à formação e ingresso de novos talentos ao mercado.

Antes mesmo da pandemia, a adesão aos cursos técnicos já vinha aumentando a cada ano. De acordo com o último censo do IBGE, de 2019, o País registrou 9,3 milhões de estudantes no ensino médio, dos quais 7,1% frequentavam algum tipo de curso técnico. Essa modalidade de ensino também foi registrada dentre 49,3 milhões de pessoas que haviam concluído o ensino médio (5,2%). 

Além da agilidade para formar novos profissionais, os cursos de formação profissional são flexíveis e podem ser desenhados sob medida para atender a demandas específicas das empresas, por meio de projetos completos que começam desde a seleção e formação desses jovens até seu ingresso numa empresa. Essa parceria entre empresas e instituições para formar talentos é a grande saída para atender aos pilares da sustentabilidade, tanto no social como no financeiro.

Os jovens são os principais afetados pela paralisação da economia causada pela pandemia. Segundo os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), divulgados pelo IBGE, jovens entre 14 e 24 anos representam 6,8 milhões do total dos mais de 14 milhões de desempregados hoje no País. É fundamental estender a mão para quem está ingressando na vida profissional.

Na contramão dessa realidade, a área de Tecnologia da Informação (TI) sofre com a baixa quantidade de profissionais disponíveis, muito aquém das vagas oferecidas. Um estudo da Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom) aponta que, até 2024, serão 421 mil postos de trabalho criados no setor, que representam mais de 100 mil novas vagas por ano.

Outro estudo recente da RH Randstad indicou que mais da metade (58%) dos líderes de recursos humanos do Brasil declara falta de talentos para preencher vagas disponíveis. O levantamento apontou ainda que faltam profissionais qualificados na área de TI. Os investimentos na área aumentaram em velocidade inimaginável e as demandas começaram a surgir muito antes de preparar os profissionais que vão atendê-las a tempo.

Mas, se encontrar “talentos prontos” está cada vez mais difícil, por que não ajudar a formá-los? Antes de acusar a falta de talentos, é preciso participar da missão que também compete às empresas que é investir nessa formação.

Afinal, talentos não nascem prontos nas prateleiras de supermercados como “enlatados”. Eles nascem de planos para um crescimento sustentável. Só assim vamos preencher as vagas disponíveis em quantidade e qualidade. Formar talentos é transformar realidades e também é uma forma de contribuir para a mudança que queremos ver na educação e no País.

*SUPERINTENDENTE DO INSTITUTO DA OPORTUNIDADE SOCIAL (IOS)

O ESTADO DE S. PAULO

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