De petiscos a bolsas de estudo, benefícios aumentam para quem busca emprego

Subsídios estudantis para filhos e cônjuges. Acomodações grátis para empregados de hotéis de veraneio, jogos de facas para cozinheiros iniciantes. E petiscos por conta da casa para qualquer pessoa disposta a comparecer a uma entrevista de emprego num restaurante.

Determinados a seduzir novos empregados e manter os que já têm, em meio a um mercado de trabalho subitamente aquecido, empregadores estão apelando para novos benefícios, que vão além das tradicionais recompensas financeiras. Em alguns casos, os incentivos incluem a possibilidade de os trabalhadores darem novas formas às suas carreiras, por meio de bolsas de estudo e admissões garantidas em programas de treinamento gerencial.

Apesar da taxa de desemprego de 5,8% em maio nos Estadps Unidos (e que no Brasil chega passa de 14%), a súbita reabertura de enormes setores da economia dos EUA fez as empresas terem de disputar trabalhadores enquanto o verão se aproxima, especialmente no setor de serviços. Além disso, em muitos casos, os benefícios se somam a um valor maior pela hora de trabalho.

O resultado é uma miríade de novos benefícios, enquanto funcionários de recursos humanos e empregadores repensam o que contribui para um atraente pacote de incentivos. E em um movimento inovador, algumas empresas estão ampliando benefícios educacionais para as famílias dos empregados.

O mercado de trabalho estava relativamente equilibrado antes da pandemia, no início de 2020, com o índice de desemprego em 3,5%, mas o advento das ofertas não financeiras é novidade. Muitas grandes empresas se viram em disputa com outros gigantes por trabalhadores com qualificações e experiências similares – e querem se destacar, especialmente em meio à pressa para recontratar após a pandemia.

“Sabíamos que tínhamos de fazer algo radicalmente diferente para tornar a Waste Management atraente, em um momento que outras empresas também procuram pelo mesmo tipo de trabalhador”, afirmou Tamla Oates-Forney, diretora de recursos humanos da Waste Management. “A guerra por talentos é tanta que o salário não é um fator diferencial.”

“Nunca haverá motoristas demais”, afirmou ela. “Se pensarmos na Amazon e no Walmart, estamos atrás das mesmas pessoas.” A Waste Management pagará por cursos universitários e técnicos para seus empregados e também por certificações em áreas como análise de dados e gerenciamento de negócios. Em uma ampliação significativa dos incentivos, esse ano a empresa começará a oferecer essas bolsas de estudo também para cônjuges e filhos de trabalhadores, válidas para matrículas a partir de janeiro.

“Somos capazes de fazer algo que transforma verdadeiramente a vida das pessoas”, afirmou Jim Fish, diretor executivo da Waste Management. “Para quem tem filhos no Ensino Médio, é uma mão na roda.”

A JBS USA, maior produtora de carne do país, começou em março a se oferecer para bancar estudos universitários de seus 66 mil trabalhadores e também de um filho por empregado. O benefício se seguiu a um aumento de mais de 30% no valor da hora de trabalho ao longo do ano passado, afirmou Chris Gaddis, diretor de recursos humanos da JBS USA.

Em grandes instalações de processamento de carne, os trabalhadores que ganham menos fazem US$ 21 por hora, enquanto salários para cargos que exigem mais qualificação chegam a US$ 30 por hora.

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“Estamos vendo muito mais novidades em termos de remunerações e incentivos secundários, mas ninguém está fazendo o que estamos fazendo no setor de produção rural americano”, afirmou Gaddis.

Os incentivos educacionais da JBS e da Waste Management são destinados a reduzir a rotatividade no quadro de funcionários e atrair novos empregados. As empresas pagam totalmente as mensalidades de um grupo selecionado de instituições; o programa da JBS oferece uma variedade mais ampla de bacharelados e certificações. Com a cobertura dos estudos dos dependentes, as carreiras dos funcionários na empresa podem durar décadas, em vez de anos.

Toda vez que um funcionário contratado pela Waste Management deixa a empresa, ocasiona um custo mínimo de US$ 12 mil para que uma nova contratação, afirmou Fish. Além disso, entre motoristas, 50% dos acidentes de trabalho ocorrem entre os profissionais com menos de três anos de casa.

“Em termos de segurança, quanto mais tempo você está na empresa, melhor você é”, afirmou Fish. E bolsas de estudo, acrescentou ele, “são uma boa isca”. A Waste Management estima que gastará de US$ 5 milhões a US$ 10 milhões no primeiro ano do programa.

Em face à pandemia, os empregadores passaram a pensar mais holisticamente a respeito de seus funcionários e seus objetivos, incluindo na vida pessoal e familiar”, afirmou AnnElizabeth Konkel, economista do Indeed Hiring Lab. Ampliar benefícios para cônjuges e filhos busca atender essas considerações.

“Não dá para evitar a família”, afirmou Konkel. “Todo mundo tem de mudar radicalmente em relação ao que fez nos últimos 15 meses.”

A competição por novos empregados é especialmente intensa nos setores de lazer e hospitalidade, que voltaram à vida depois de fechar quase completamente na última primavera.

O Applebee’s almeja contratar 10 mil funcionários neste verão e anunciou no mês passado que vai distribuir vouchers de petiscos grátis para qualquer pessoa que marque entrevista para se candidatar a uma vaga. Esperando 10 mil candidatos, a cadeia de restaurantes conseguiu 40 mil como resultado da promoção, afirmou John Cywinski, presidente do Applebee’s.

“O que mais vendemos são os petiscos, então decidimos trocar petiscos por candidaturas”, afirmou Cywinski. “Os clientes estão fazendo fila, mas não tenho a equipe que gostaria.”

Para atrair trabalhadores para este verão, o Omni Hotels & Resorts está oferecendo uma série de incentivos, incluindo hospedagem grátis para funcionários em algumas unidades, assim como acesso garantido ao programa de treinamento gerencial da empresa para trabalhadores que continuarem empregados até o Dia do Trabalho (6 de setembro nos EUA). Novos funcionários também ganharão hospedagem grátis na unidade do Omni de sua escolha.

“Reservamos quartos dos nossos hotéis para que funcionários não precisem se preocupar a respeito de onde irão viver se aceitarem a vaga”, afirmou Joy Rothschild, diretora de recursos humanos do Omni. “Nunca tínhamos reservado quartos de hóspedes para alojar funcionários.”

Membros das equipes de gastronomia ganharão um jogo de facas e terão palestras semanais com os chefs das cozinhas em que trabalharem, para aprender com a experiência do profissional.

“Precisávamos fazer algo para chamar a atenção dos estudantes de gastronomia”, afirmou Rothschild. “Tenho visto muitas empresas oferecerem incentivos financeiros, mas achamos que isso não era suficiente. Universitários dispostos a trabalhar querem mais do que um salário.”

Não que o dinheiro esteja completamente fora de moda – todos os contratados pelo Omni para o verão ganham um bônus de US$ 250 ao assinar o contrato, mais um bônus retido de US$ 500, que poderá ser sacado após a temporada.

Rothschild acredita que os incentivos adicionais são necessários para tapar os buracos. Qualquer coisa, afirmou ela, novos benefícios serão pensados.

“Não acho que tenhamos esgotado o recurso dos incentivos”, afirmou ela. “Queremos ver quanta adesão vamos conseguir com esses, mas suspeito que precisaremos de mais.”

O ESTADO DE S. PAULO

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