Folha de S.Paulo – 17/02/2022 –
O banco Credit Suisse aposta em uma vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições presidenciais de 2022.
Em relatório publicado nesta quinta-feira (17), assinado pelos economistas Solange Srour e Lucas Vilela, o banco suíço prevê a vitória do ex-presidente frente aos principais adversários e traça um panorama do que os investidores devem esperar de um eventual terceiro mandato do petista.
“O ex-presidente Lula deverá implementar mudanças no mercado de trabalho que aumentem a proteção social dos trabalhadores e que favoreçam os acordos coletivos. Além disso, ele deve suspender a agenda de privatizações e concessões ao setor privado e aumentar a participação das estatais no mercado”, diz o relatório do Credit Suisse.
Ainda segundo os economistas do banco, em áreas como educação, saúde e meio-ambiente, as prioridades do ex-presidente deverão caminhar no sentido de reestruturar órgãos governamentais que foram modificados pelo governo Jair Bolsonaro (PL).
“Alguns pontos, no entanto, tendem a convergir entre os dois candidatos [Lula e Bolsonaro]: benefícios sociais para reduzir a pobreza e a desigualdade de renda devem ser mantidos ou até mesmo ampliados, e o quadro tributário deverá ser alterado, com a criação de uma tributação sobre lucros e dividendos”, apontam os economistas.
Eles dizem ainda não esperar por parte de nenhum dos dois candidatos um abandono por completo do compromisso com uma agenda fiscal responsável.
“Caso o façam, acreditamos que o país entraria em uma recessão ainda mais profunda do que a que provavelmente ocorrerá em 2022, reduzindo o índice de aprovação do presidente e sua capacidade de governar.”
Os economistas do Credit Suisse afirmam que o presidente a ser eleito precisará ancorar as expectativas dos agentes econômicos, com indicações de que as contas públicas serão estabilizadas mais à frente, de forma a evitar a desvalorização do real e o aumento da inflação e da taxa de juros.
“O consenso agora é de que, se o Lula for eleito, ele será pragmático, com a aprovação de reformas e com algum avanço no processo de consolidação fiscal como em 2003”, preveem os economistas.
“É provável que Lula tranquilize os investidores sobre a capacidade do Brasil de estabilizar a dívida no médio e longo prazo.”
Eles dizem ainda que, diferentemente de 2002, uma vitória do petista neste ano não deverá ser acompanhada de uma “carta ao povo brasileiro”, texto no qual Lula assegurou à época que manteria as contas públicas e a inflação sob controle.
“Desta vez, não haverá tal carta, mas o fato de o ex-presidente estar fazendo acenos aos partidos de centro-direita e direita nos traz a confiança de que ele adotará uma postura pragmática.”
Ainda segundo os economistas do banco suíço, Lula não deverá adotar uma postura extremamente pró-mercado, mas tampouco irá conduzir a agenda fiscal de forma a levar o país em direção à insolvência.
“Se Lula vencer com uma ampla margem e os agentes econômicos não exercerem muita pressão, com uma taxa de câmbio estável, juros futuros comportados e baixo risco de crédito, então ele provavelmente irá governar com uma coalizão semelhante à de seu segundo mandato e haverá menos incentivo para a adoção de uma agenda pró-reforma.”