Valor Econômico
Empresas devem ser transparentes em relação às características da vaga e estimular candidatos a fazerem perguntas
Por Jacilio Saraiva
É possível errar menos na hora de contratar. De acordo com levantamento da consultoria Robert Half feito este ano, as principais orientações para reduzir riscos são “filtrar” currículos de forma mais efetiva, item apontado por 70% de 300 líderes entrevistados; contratar por tempo determinado (43%) e identificar habilidades que não podem ser dispensadas do planejamento corporativo (42%).
Executivos admitem erros em contratações no último ano
Para especialistas e líderes de recursos humanos ouvidos pelo Valor, outro segredo é esclarecer ao máximo todas as características da vaga, o modelo de trabalho e a carga horária. “Além de falar por que estamos contratando naquele momento”, diz Fabíolla Sacramento, diretora de RH da Ramo Sistemas, de softwares de gestão empresarial, que passou por um caso recente de contratação imprecisa.
Um consultor de TI não deixou claro na seleção 100% virtual que estava participando de outros recrutamentos fora do país. Ele pretendia ficar conosco enquanto a pandemia durasse, por ser um trabalho remoto, lembra. “Permaneceu apenas seis meses. Talvez um recrutamento presencial teria dado a chance de nos aprofundarmos nas expectativas dele e deixado clara também a posição da empresa.”
Nas entrevistas on-line, é necessário fazer um “checklist” com os candidatos sobre as necessidades da companhia e estimular o futuro funcionário a fazer perguntas, diz a diretora. “Muitas vezes, eles não se sentem confortáveis em questionar, pela impessoalidade do processo digital ou por falta de experiência em seleções remotas.”
Depois dos retoques nas conversas, a Ramo efetivou 60 profissionais, com 20% das colocações para gestores.
Carlos Eduardo Altona, sócio-fundador da Exec, de busca e seleção de executivos, diz que um dos principais “sintomas” que mostram que a aquisição não foi a melhor aparece em comportamentos simples do dia a dia. “Um profissional que se comporta de forma acuada, atuando como ouvinte e sem posicionamento durante reuniões, logo poderá se mostrar uma admissão equivocada”, diz. “No nível gerencial ou superior, é possível identificar esses enganos em três a seis meses.”
Antes de mais nada, explica, é preciso investigar a motivação do candidato em relação ao emprego. “Esses últimos tempos foram de revisão de propósitos e busca por uma melhor qualidade de vida”, destaca. “Os candidatos passaram a valorizar empregadores conectados com a inovação, a sustentabilidade e o trabalho social.”
Luiz Seixlack, sócio da Page Executive, consultoria do PageGroup especializada no recrutamento para o alto escalão, identificou que profissionais contratados na pandemia tendem a permanecer menos tempo nas organizações. “Como, muitas vezes, o processo [de entrada] é 100% virtual, o candidato só conhece a realidade da organização quando vai trabalhar presencialmente, o que dificulta a criação de vínculos.”
A dica de Seixlack é que as seleções digitais incluam pelo menos uma etapa presencial, principalmente nas escolhas de talentos estratégicos. “Para ter um ‘olho no olho’”, diz. As referências também têm peso, ressalta o especialista. “Checar com quem o candidato atuou continua essencial para validar as experiências relatadas.”