Com inflação, baixo crescimento e desemprego, Brasil vive estagflação

Folha de S.Paulo

Estagflação é a situação por que passa um país quando há inflação alta e persistente, taxa de crescimento do produto baixa e elevado desemprego. Esse é o retrato atual do Brasil: inflação de dois dígitos, quase 15 milhões de desempregados que significam 12,6% de taxa de desemprego, e uma taxa de crescimento pífia do PIB este ano (4,6%) conforme está previsto pelo Boletim Focus do Banco Central.

Este crescimento apenas repõe a perda de 3,9% de 2020, tal que o PIB per capita volta a cair.

Os resultados das Contas Nacionais Trimestrais divulgados pelo IBGE referentes ao terceiro trimestre do ano são muito ruins. Em primeiro lugar, o PIB do terceiro trimestre caiu 0,1% frente ao segundo trimestre, e este reduziu-se 0,4% frente ao primeiro trimestre, caracterizando a estigmatizada marca de dois trimestres negativos consecutivos, pelo qual alguns definem recessão técnica. De fato, a economia continua em recessão, conforme o Codace (Comitê de Datação do Ciclo Econômico) definiu no primeiro trimestre de 2020.

Em segundo lugar, o PIB desses três trimestres deste ano praticamente se iguala aos dos iguais 3 trimestres de 2019. Das 12 atividades produtivas medidas pelo IBGE, 3 (serviços de informação, instituições financeiras e serviços imobiliários) não foram impactas pela pandemia e até cresceram. Outras (extrativa mineral, transformação, construção, transportes, outros serviços e administração pública) não se recuperaram do tombo da pandemia ou têm valores inferiores aos de 2019.

Pelo lado da demanda, o consumo das famílias e do governo continua abaixo de 2019, enquanto a formação bruta de capital fixo –devido a nacionalização das plataformas de petróleo– aparece superior a 2019.

O setor de serviços (com participação de 73% no PIB) foi o primeiro setor impactado pela pandemia. Já em janeiro de 2020 ele aparece estagnado, e em abril e maio apresentou taxas médias mensais interanuais de -12%. Os piores resultados foram os de: transportes (-22%), comércio (-18%), outros serviços (os prestados as famílias, hotéis, bares e restaurantes, com -23%) e administração pública (com quedas expressivas em saúde e educação). Isto se deveu basicamente à necessidade do isolamento social para contenção da pandemia devido aos elevados índices de contaminação e de óbitos.

Progressivamente essas taxas negativas se reduziram e foram transformadas em taxas positivas elevadas a partir do mês de março de 2021 (excetuando outros serviços e administração pública que se tornaram positivas apenas a partir de abril). Da mesma forma que na queda esse resultado está associado à flexibilização do isolamento social que possibilitou a abertura do comércio, as viagens de ônibus interestadual e de avião, a frequência de hotéis, restaurante e bares, e a retomada de consultas e intervenções cirúrgicas em hospitais e postos de saúde públicos.

Não deve ser menosprezada a manutenção da sobrevivência de parcela considerável de pessoas graças ao auxílio emergencial. Esta sobrevivência que se manifesta pelo consumo de bens não duráveis por parte das famílias já está se estabilizando com o fim do auxílio tal que o consumo das famílias passará a depender da taxa de desemprego, da inflação e da perda de poder aquisitivo das famílias.

Pelo lado do emprego, o setor de serviços é responsável por 69% das ocupações da economia brasileira, sendo comércio (18%), outros serviços (32%) e administração pública (11%) as principais atividades empregadoras. São também estes os setores com maior contribuição ao PIB: respectivamente, 13, 18, e 17%. Com a elevação da taxa de desemprego que vinha se reduzindo, mesmo que timidamente, em 2018 e 2019, inverteu-se a tendência que atingiu o nível máximo de 14,9% em 2020 e 2021, respectivamente.

Continuamos em recessão e agora juntou-se a inflação e o desemprego, caracterizando a estagflação.

Compartilhe