Folha de S.Paulo
Presidentes das centrais dizem que uso do termo dificulta diálogo e passa ideia equivocada
Guilherme Seto
SÃO PAULO
As centrais sindicais reagiram com surpresa ao esboço do plano de governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) divulgado nesta terça-feira (7).
Após meses de diálogo com a coordenação de campanha petista, suas lideranças acreditavam que havia o entendimento pela defesa de uma revisão da reforma trabalhista, e não revogação. No entanto, o texto diz que a chapa defende “a revogação da reforma trabalhista feita no governo [Michel] Temer e a construção de uma nova legislação trabalhista.”
A diferença, afirmam, é que uma revisão seria capaz de manter pontos considerados positivos que surgiram com a reforma trabalhista, como a prevalência de acordos ou convenções coletivas sobre a legislação em alguns casos. A revogação passa a ideia de que tudo, inclusive o que é considerado como avanço pelas centrais sindicais, seria desfeito, dizem.
“Não queremos a revogação. Queremos a repactuação de temas”, diz Ricardo Patah, presidente da UGT.
“Essa questão, colocada dessa forma, traz muita desconfiança, principalmente do mundo empresarial, e não é o que queremos. Estamos há cinco anos com a reforma, alguns temas têm que ser repactuados. O negociado sobre o legislado, por exemplo, é um dos elementos mais importantes e que precisam ser valorizados pela classe sindical. Se você revoga, perde isso também”, completa.
A página oficial da CUT, por exemplo, deu o título “Plano de Lula prevê recuperação das estatais e revisão da reforma trabalhista” ao seu texto sobre o tema, evitando o termo utilizado pelo plano petista.
Para Miguel Torres, presidente da Força Sindical, o uso do termo “revogação” dificulta a criação de um contexto favorável à construção de uma negociação tripartite entre trabalhadores, empresários e governo no sentido de alterar a reforma trabalhista, que é mencionada pelo esboço de plano do PT.
Torres diz que a ideia de revogação é frequentemente associada à volta do imposto sindical, que atravanca as conversas com os empresários, gera resistência junto à opinião pública e não é desejada pelas centrais.
Ainda que o texto do PT diga explicitamente que os sindicatos devem ser fortalecidos sem a volta do imposto sindical, Torres defende que o ideal seria utilizar outra formulação, como revisão.
Os presidentes dizem que vão buscar contato com os membros da coordenação de campanha de Lula para tratar do tema.
Após diálogo com as centrais, petistas passaram a evitar o uso da expressão “revogação” e, inclusive, a corrigir quem usasse o termo, afirmando que o partido defende a revisão, o que fez aumentar a surpresa dos sindicalistas com a formulação.
A ideia de revogação da reforma é defendida mais claramente pelos partidos mais à esquerda que compõem a coligação de Lula, como o PSOL.