Valor Econômico
Levantamento mostra que os relatos de fraude financeira são os menos comuns
Por Jacilio Saraiva
As denúncias feitas por funcionários nas empresas brasileiras aumentaram em 2021, em relação a 2020. Entre os tipos de notificações, as que sinalizam assédio moral, sexual, agressão e discriminação são mais de quatro vezes maiores, em número de relatos, do que o indicador sobre fraudes financeiras. É o que mostra uma pesquisa realizada pela Aliant, plataforma de soluções digitais da consultoria de gestão de riscos e compliance ICTS Protiviti. O relatório registra um avanço de 18% nas queixas feitas no ano passado, em comparação a 2020, que já havia apontado uma elevação de 6% nas declarações, ante 2019.
O estudo, obtido com exclusividade pelo Valor, é baseado em 125.412 registros feitos nos canais de denúncias de 563 empresas de diferentes portes e segmentos, em todos os estados. A maioria é do setor de serviços (44,2%) e da indústria (22,3%), mas o maior volume de indícios, por amostra de mil funcionários, foi observado no varejo (19,4%), com uma participação de 6,4% nas delações.
Outro dado que chama a atenção na análise é que para cada reclamação de fraude há pelo menos quatro sobre assédio. Dentro do tópico “relacionamento interpessoal”, categoria do levantamento que inclui falhas de comportamento e práticas abusivas, estão 52,6% dos reportes em 2021 – os desvios de comportamento (não agir de acordo com as normas ou tudo que vai contra o código de conduta da companhia) marcaram 21,6%, enquanto os atos abusivos (assédio moral, sexual, agressão e discriminação), chegaram a 31%. As delações sobre fraudes somam apenas 6,9%.
“O crescimento expressivo dos relatos de assédio é um reflexo do que a sociedade vive hoje, com mais consciência sobre a temática e mais segurança de trazer os casos à tona”, diz Fernando Fleider, CEO da ICTS Protiviti. “Os canais de denúncias, que nasceram com incentivos de governos e mercados, tornam-se, a cada dia, mecanismos de acolhimento aos funcionários.”
Fleider considera que os dados servem como um pedido de atenção às organizações para um maior cuidado com as equipes. “Historicamente, as corporações buscam indicadores financeiros para analisar as denúncias, em especial nos casos de fraude, diz. “Mas o fator financeiro pode estar ligado também aos assédios, por conta das condenações judiciais trabalhistas.”
A perda de valor em imagem das corporações com as denúncias, continua o executivo, também é financeiramente danosa, sem falar que as ocorrências podem levar ao aumento do turnover e dos problemas de saúde dos profissionais.
O CEO da ICTS Protiviti afirma ainda que, nos casos de assédio, diminuíram as estatísticas com notas como “dados insuficientes ou não conclusivos”, em relação à pesquisa anterior. “Isso prova que os denunciantes estão mais confiantes em detalhar o ocorrido”, destaca.
Ao mesmo tempo, subiu o volume de medidas disciplinares como “orientação e transferência de funcionários de setores”. “É uma demonstração de que as chefias estão mais voltadas às ações preventivas, apostando em educação, do que em movimentos punitivos, como suspensões e advertências.”