Apesar do alto desemprego, falta gente habilitada para postos-chave nas empresas

Escolas tradicionais não têm acompanhado o ritmo de mudança nas empresas, afirma o presidente da XP Educação; empresas apostam em ensino que aliam conhecimentos técnicos, comportamentais e experiência prática

Juliana PIo, O Estado de S.Paulo

Apesar do alto desemprego, falta gente habilitada para postos-chave nas empresas
Empresas investem em escola própria para formar profissionais
‘Guerra global por talentos está alimentando tendência de employer u’, diz especialista em educação

O Brasil vive um contrassenso. Ao mesmo tempo em que o País soma cerca de 10,6 milhões de desempregados, as empresas reclamam da dificuldade para conseguir preencher vagas essenciais devido à escassez de talentos com as habilidades necessárias. A leitura do mercado é que o ritmo de mudança das empresas tem sido mais acelerado do que as instituições educacionais têm conseguido captar, afirma o CEO da XP Educação, Paulo de Tarso.

O relatório Tendências de Gestão de Pessoas em 2022 do Great Place to Work (GPTW) indica que 59,5% dos 2.654 entrevistados afirmaram que as organizações pretendem aumentar o número de pessoas esse ano. Entretanto, 68,3% sentem dificuldade para contratar profissionais. Ainda segundo a pesquisa, entre as habilidades apontadas pelas empresas como as mais importantes estão a capacidade de resolver problemas complexos, de liderar e influenciar, e a resiliência.

“Talvez seja essa a dificuldade ao contratar: encontrar pessoas com o pacote completo, ou seja, com habilidades técnicas exigidas pela rotina de trabalho somadas às comportamentais necessárias para lidar com os novos desafios do mercado”, sugere Tatiane Tiemi, Co-CEO do Great Place to Work Brasil.

É nesse cenário que emerge o conceito ‘employer U’, descrito pelo especialista em educação Brandon Busteed. Ele explica à reportagem que a ideia é combinar um diploma com experiências e habilidades relevantes para a carreira. “O futuro de toda a educação envolve o aprendizado integrado ao trabalho. Quando as universidades e os empregadores colaboram no currículo, é, em geral, pedagogicamente mais sólido e relevante para a carreira do que quando feito individualmente”, diz o diretor de parcerias e líder global de inovação do aprendizado do trabalho da Kaplan, empresa global de serviços educacionais. 

O modelo serviu de inspiração para a criação da Faculdade XP. “Queremos que a empresa seja o grande campo de prática dos alunos”, ressalta Paulo de Tarso. Com foco na formação de talentos tanto para o quadro interno quanto para o mercado de trabalho, a iniciativa, que teve investimento de R$ 100 milhões, prevê cinco graduações em https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg de graça, além de cursos de pós-graduação e de curta duração pagos. Ao final, o aluno sai com diploma licenciado pelo Ministério da Educação (MEC). A expansão acontece sete meses depois da compra da faculdade IGTI (Instituto de Gestão e Tecnologia da Informação).

“O conceito de employer U não é tão recente quando olhamos para outros benchmarks, mas tem ficado mais forte por meio do setor de https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg devido ao grande desequilíbrio entre oferta e demanda de mão de obra”, destaca Tarso. Em sua visão, hoje, um dos maiores problemas corporativos é a falta de profissionais recém-formados realmente capacitados para a realidade do trabalho.

Aprendizado com desafios reais 

Não por acaso, o Instituto de Tecnologia e Liderança (Inteli), localizado no Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), em São Paulo, estreou as atividades letivas em fevereiro deste ano com quatro tipos de graduação superior na área de https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg, orientadas por projetos e que integram ao currículo acadêmico competências de computação (70%), negócios (20%) e liderança (10%).

A faculdade, sem fins lucrativos, é fruto de idealização de sócios do banco BTG Pactual, incluindo Roberto Sallouti, e de doação de R$ 200 milhões da família de André Esteves. A aprendizagem é focada no desenvolvimento de competências a partir de desafios propostos por parceiros de mercado. Entre os selecionados no primeiro semestre, estão: Ambev, BTG Pactual, Hotel Urbano, Yamaha, Falconi, Faculdade de Medicina da USP, além das ONGs Projeto Constituição na Escola, Projeto Revirar e do próprio Inteli.

“Ao longo de quatro anos, os alunos desenvolvem projetos para solucionar problemas reais de diferentes empresas, por meio de protótipos funcionais de https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg, unindo a experiência acadêmica às demandas do mundo corporativo”, conta a CEO do Inteli, Maíra Habimorad. 

Atualmente, a Inteli conta com 170 alunos matriculados de 63 cidades de todas as regiões do País. Desses, 50% recebem bolsas, viabilizadas a partir de doações de empresas, fundações e pessoas físicas. Alguns estudantes ainda contam com auxílios de moradia e alimentação, curso de inglês e equipamentos (notebook), de acordo com a necessidade. 

Os estágios começam a partir do terceiro ano. “Mas já temos estudantes sendo requisitados desde o primeiro período”, comemora Maíra. Ao final, é possível escolher entre três trilhas para definição do plano de carreira: empreendedora, acadêmica ou mercado. “Queremos formar futuros líderes para o Brasil independentemente das suas escolhas”, garante a especialista. 

Empregabilidade e negócio de valor

Precursora de modelos corporativos de desenvolvimento, a Embraer tem 96% de empregabilidade no Programa de Especialização em Engenharia (PEE), que prevê um Mestrado Profissional do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). A formação completou 20 anos em 2021 e já contemplou 1.600 pessoas. Este ano, a empresa iniciou a primeira turma do novo Programa de Especialização em Software, uma parceria com a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). 

O índice de contratação também é alto entre programas de formação com foco em jovens em situação de vulnerabilidade, tais como Programa Formare, CentroWEG e Alpha Edtech, os quais garantem, respectivamente ao final da capacitação, certificação da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e Instituto Alpha Lumen.

Cerca de 45 empresas em todo o Brasil, como 3M, L’oréal, Siemens, Maxion, Suzano e Volkswagen, investem no Formare. A taxa de empregabilidade do programa é de 93% e 65% dos participantes ingressam em uma graduação posteriormente. Já a Weg, fabricante de motores elétricos, absorve 100% dos seus alunos, assim como a Alpha Edtech, por meio das empresas parceiras, como Stone, Hash, Brex, Vitta e Farfetch. 

Entre as companhias que investem em educação, há as que já observam efeitos externos, tais como: melhoria na qualidade dos produtos, serviços e atendimento (90%); melhoria da imagem institucional (84%); atração de talentos (73%); e expansão dos negócios da empresa (51%). Os dados são da 5ª Pesquisa Nacional de Práticas e Resultados da Educação Corporativa, da Fundação Instituto de Administração (FIA), com participação de 63 organizações. 

Ao mesmo tempo em que preparam pessoas para o mercado, as organizações, a exemplo de IBM, Ambev, Microsoft, Amazon, Petrobrás etc., agregam valor ao negócio ao estruturarem universidades, escolas ou cursos a partir das próprias competências estratégicas. 

“O investimento das organizações no ensino não é uma prática nova, mas vem crescendo e ficando cada vez mais abrangente e sofisticado”, explica Marisa Eboli, especialista em educação corporativa e professora da FIA. Parte da preocupação com a empregabilidade, diante da globalização e dos avanços tecnológicos. “Está caindo a ficha de que precisamos de mão de obra qualificada, esteja ela dentro da minha empresa ou não”, finaliza. 

https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,apesar-do-alto-desemprego-falta-gente-habilitada-para-postos-chave-nas-empresas,70004107892

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