Estadão
Por Luiz Vassallo e Giordanna Neves
Siglas também demonstram descontentamento no autoelogio do PT no combate à corrupção
Partidos aliados e apoiadores da pré-candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva demonstraram descontentamento com uso do termo “revogação” para tratar da reforma trabalhista e com os autoelogios do PT no tema do combate à corrupção na prévia de programa de governo divulgada na segunda-feira, 6. A reclamação é que não houve diálogo com as siglas que firmaram alianças em torno do nome do ex-presidente na disputa ao Planalto.
Lideranças do PV, PCdoB, PSOL, PSB, Rede e Solidariedade se reuniram nesta quinta-feira, 9, com dirigentes petistas para buscar alinhamento em torno do programa de diretrizes para as eleições 2022.
Segundo apurou o Estadão, o ponto de maior incômodo na reunião foi o “vazamento” do documento com 90 tópicos sobre as propostas para o País. Intitulado de “diretrizes para o programa de reconstrução do Brasil Lula 2023-2026″, o documento foi divulgado nesta segunda, 6, pela Fundação Perseu Abramo. Aliados consideraram que não era hora de anunciar o documento sem alinhamento entre os partidos.
Entre pontos mais polêmicos, estão a “revogação” da reforma trabalhista e do teto de gastos. O termo tem sido evitado inclusive pelo ex-presidente Lula em seus discursos. O petista tem adotado o termo “revisar” para se referir à reforma. Centrais sindicais também preferem evitar a palavra “revogação” para evitar atritos com o empresariado.
Segundo aliados, a reunião serviu para superar o descontentamento com o vazamento. A data desta quinta, 9, constava no documento como prazo final para que aliados enviassem suas sugestões. “Sábado vamos nos reunir para verificar a incorporação e consolidação dessas emendas apresentadas”, afirmou o ex-deputado Domingos Leonelli (PSB), que representou o partido na reunião.
Centrais sindicais
Até sábado, haverá mais um debate sobre o tema. Centrais sindicais também serão ouvidas. “Os partidos deliberaram por solicitar as posições das centrais sindicais a respeito as reformas trabalhistas, trabalhadores do campo, reforma agrária, agricultura familiar, ambientalistas. Educadores também vão ser ouvidos. Esse caso (reforma trabalhista) é um aspecto pontual. O PT defende a revogação, mas vamos ouvir as Centrais Sindicais”, afirma a ex-ministra Maria do Rosário, representante do PT na reunião.
Em seguida, o projeto passará por uma plataforma de sugestões online para que a sociedade faça seus apontamentos, até a segunda quinzena de junho, de acordo com nota conjunta dos partidos. O documento então ainda passará pelas instâncias partidárias e terá palavra final de Lula e do ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), candidato a vice.
[Dilma Rousseff, Lula e Geraldo Alckmin durante Ato pela Soberania do Brasil, em Porto Alegre (RS).]
Dilma Rousseff, Lula e Geraldo Alckmin durante Ato pela Soberania do Brasil, em Porto Alegre (RS). Foto: Ricardo Stuckert/Divulgação Lula
Mesmo após o alinhamento estratégico, integrantes dos partidos afirmam ao Estadão que há descontentamento com parte dos itens. No Solidariedade, além da revogação da reforma trabalhista, houve insatisfação com o tópico do combate à corrupção. Mas segundo pessoas presentes na reunião, representantes do Solidariedade não tocaram no assunto.
Dentro da legenda, questiona-se o motivo de o PT ter se colocado como “baluarte” do combate à corrupção, mesmo sabendo que os governos petistas foram marcados por esquemas de corrupção, como o mensalão e a corrupção na Petrobras. Eles não acreditam que o PT seja o centro do problema, como diz a oposição, mas afirmam ao Estadão que relembrar o passado envolvendo o tema pode suscitar o debate em torno destes escândalos pela imprensa e por rivais.
No documento prévio divulgado nesta segunda-feira, 6, há uma exaltação do reforço da Polícia Federal e do Coaf durante a era petista. Fizeram constar no papel que durante a era Lula e Dilma, houve, “de forma inédita no Brasil, uma política de Estado de prevenção e combate à corrupção e de promoção da transparência e da integridade pública”.
Dentro do PSB e da Rede, a divulgação da prévia sem diálogo com os partidos foi a questão considerada mais grave. Mesmo assim, ao Estadão, integrantes das legendas afirmam que o desconforto ficou no passado.
Um integrante do PSB afirma concordar com o uso do termo “revogação” para tratar da reforma. Até sábado, a legenda fará suas emendas. Entre elas, integrantes do PSB querem um reforço na abordagem sobre o combate às drogas. No documento prévio, o PT deu ênfase ao enfrentamento do tráfico e das milícias.
Um dos itens diz respeito a como desmontar as organizações criminosas atingindo seu “poderoso núcleo financeiro”. Integrantes do PSB querem que se conste algo mais detalhado a respeito da reabilitação e qualificação profissional de usuários e cobram uma mudança de estratégia, a ser alinhada.