Programa de aprendizagem emprega 68% dos participantes, diz pesquisa

Levantamento mostra que Brasil poderia usar mais intensamente o Programa Aprendiz Legal para formar profissionais

Por Mariana Rosário — “O Globo”, de São Paulo

Jovens com idades entre 14 e 24 anos que atuaram como aprendizes encontram ampla adesão no mercado de trabalho formal, após o fim do contrato dessa primeira experiência. É o que mostra uma pesquisa realizada com 208 mil jovens egressos do Programa Aprendiz Legal. De acordo com a análise, 68% dos que passaram por essa modalidade de emprego conseguiram uma colocação no mercado de trabalho formal.

O estudo foi realizado pela consultoria H&P a pedido da Fundação Roberto Marinho (FRM) em parceria com as operações regionais de São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul do Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE) e da organização social Gerar.

A análise revela ainda que o país poderia atuar com maior intensidade nesse mecanismo de inserção profissional. Atualmente, são cerca de 460 mil jovens aprendizes no Brasil. De acordo com a Lei de Aprendizagem, dos anos 2000, o volume de trabalhadores dessa modalidade deveria representar no mínimo 5% e no máximo 15% do quadro de funcionários em cada empresa. Caso essa meta fosse atingida, a estimativa é que o país teria idealmente entre 916 mil e 3 milhões de aprendizes.

Vale dizer que o contrato de aprendiz tem regras específicas: entre elas a duração de até dois anos e a necessidade de formação teórica e prática do participante ao longo do processo.

“É uma política pública necessária, que ainda tem potencial de crescimento. Se o Brasil chegasse na cota mínima [estabelecida pela lei], o valor de aprendizes no Brasil poderia ser dobrado”, afirma Rosalina Soares, assessora de pesquisa e avaliação da FRM. “Uma jovem me disse que na comunidade em que ela morava a expectativa de vida era ter um filho para mudar seu status naquele local, obter mais respeito. À medida que ela foi para um programa de aprendizagem, ela diz que mudou suas perspectivas e passou a ter oportunidade de escolher novos caminhos.”

O estudo foi divulgado em um evento na manhã desta terça-feira, 18, em São Paulo. No mesmo encontro, foi apresentada outra pesquisa que mapeia a avaliação de jovens aprendizes, empresas e gestores de RH sobre a experiência. Os dados foram reunidos por FRM, Itaú Educação e Trabalho e Fundação Arymax.

Nesse levantamento, os jovens mostram que é preciso maior intersecção entre as escolas e o mercado de trabalho. A pesquisa aponta, por exemplo, que 75% dos meninos e meninas avaliam que as instituições de ensino preparam pouco, ou muito pouco, para a vida profissional.

Na hora da seleção, contudo, aspectos comportamentais (ter comprometimento e boa desenvoltura) figuram como 72% das características pessoais que interessam a uma empresa no momento da contratação. Conhecimento ou experiência na função (52% das respostas) também são aspectos que enchem os olhos dos recrutadores.

“A parte comportamental ganha um peso maior que a experiência prévia. É difícil estabelecer qual o comportamento, mas esse tipo de avaliação, a depender do estilo de cada empresa, é importante”, afirma Rafael Camelo, diretor de Monitoramento e Avaliação da empresa de pesquisa Plano CDE.

O CEO do CIEE, Humberto Casagrande, avalia que é preciso acelerar o passo em relação ao fortalecimento de programas de aprendizagem profissional para que o país possa ultrapassar a marca dos 460 mil inscritos, pois há potencial para que muito mais jovens tenham acesso a essa ferramenta.

“No Brasil, o programa supre lacunas que o jovem tem no ambiente familiar e educacional. São oportunidades que transformam as pessoas. Nele, as pessoas treinam novas habilidades no vestir, falar, abrem o leque de possibilidades” afirma Casagrande. “O jovem só tem a ganhar nesse processo.”

João Alegria, secretário-geral da FRM, concorda que, para além das empresas, o programa dá mecanismos importantes para seus participantes, oferecendo novas perspectivas de trajetórias profissionais.

“Todo o conjunto de pesquisas que acompanhamos do Brasil que tratam de juventudes e da inserção produtiva no mercado de trabalho aponta para um horizonte muito claro que é o desejo dos jovens em se qualificar e participar ativamente da sociedade, seja como agentes econômicos, culturais e com outras possibilidades.”

https://valor.globo.com/brasil/noticia/2022/10/19/programa-de-aprendizagem-emprega-68-dos-participantes-diz-pesquisa.ghtml

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